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Empreender no Brasil: desafios e perspectivas para o futuro

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Empreender no Brasil: desafios e perspectivas para o futuro

Provavelmente, você já deve ter ouvido falar que empreender no Brasil é para os fortes. Afinal de contas, são muitos os desafios que brasileiros e estrangeiros enfrentam quando decidem abrir uma empresa no país.

Mesmo assim, de acordo com uma pesquisa realizada em 2015 pela Global Entrepreneurship (GEM) e patrocinada no Brasil pelo Sebrae, a cada 10 brasileiros, 4 são empreendedores ou estão envolvidos em algum tipo de negócio, seja como franqueados, sócios e investidores, direta e indiretamente.

A taxa de empreendedorismo registrada foi de 39,3%, representando 52 milhões de brasileiros com idade entre 18 e 64 anos envolvidos na criação ou na manutenção de um negócio.

Mesmo em tempos de crise econômica e política, ainda assim há espaço para ideias inovadoras e que vão de encontro às necessidades de um nicho de mercado.

Nesse sentido, no post de hoje falaremos sobre os principais desafios e as tendências para o futuro do empreendedorismo. Confira.

Os principais desafios para empreender no Brasil

Eles são inúmeros, mas vamos nos concentrar em três dos principais desafios que os empreendedores enfrentam ao abrir suas empresas no Brasil. Acredite: qualquer identificação não é por acaso.

#1 A burocracia na hora de abrir a empresa

Um dos grandes desafios para empreender no Brasil é, sem dúvida, a burocracia, que começa antes mesmo de a empresa funcionar.

Afinal, é preciso percorrer repartições públicas nas esferas municipal, estadual e federal para conseguir alvarás, inscrições e autorizações, sem falar nos registros em cartórios, apresentação de guias, documentos, etc.

Tudo isso consome tempo e dinheiro.

A depender do porte e do segmento da empresa, muitos empreendedores acabam optando por contratar uma assessoria jurídica e contábil para agilizar o processo e não cometer erros.

#2 Complexo sistema de tributação

Além do pagamento de impostos altos, os empreendedores brasileiros precisam carregar consigo um verdadeiro dicionário fiscal para não se perder e ser punidos pelo governo (com mais taxas e multas).

Só para você ter uma ideia, uma empresa de pequeno porte precisa lidar com:

  • IRPJ: Imposto de Renda da Pessoa Jurídica.
  • CSLL: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.
  • PIS: Programa de Integração Social.
  • COFINS: Contribuição para Financiamento da Seguridade Social.
  • CPP: Contribuição Previdenciária Patronal.
  • IPI: Impostos sobre Produtos Industrializados.
  • ICMS: Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços.
  • ISS: Imposto sobre Serviços de qualquer natureza.

#3 A formalização dos colaboradores

Assinar a carteira dos colaboradores também é um desafio para os empreendedores brasileiros.

Afinal, em média, apenas 32% do que o proprietário paga corresponde, efetivamente, ao salário dos funcionários – isso sem contabilizar encargos variáveis, como auxílio-alimentação, vale-transporte e plano de saúde.

Para exemplificar, uma empresa optante pelo Simples Nacional apresenta 39,37% de encargos sociais, tais como:

  • 13º salário (8,3%);
  • Férias (11,11%);
  • FGTS (8%);
  • FGTS / Previsão de multa para Rescisão (4%);
  • Previdenciário sobre 13º / Férias / DSR (7,93%).

Isso significa que, ao calcular o salário de cada colaborador, é preciso embutir esses valores na quantia gasta mensalmente pela empresa, que caso, não seja optante pelo simples, apresenta uma relação de impostos ainda maior.

As perspectivas e tendências para o futuro do empreendedorismo

Mesmo com vários desafios, ainda assim podemos dizer que o empreendedorismo vale a pena, e por uma série de fatores, pois além de proporcionar a possibilidade de crescimento profissional e aumento gradual dos rendimentos, empreender ainda traz a satisfação pessoal e a perspectiva de melhorar a qualidade de vida, que é um dos grandes sonhos dos brasileiros.

Para que o negócio cresça de forma saudável, é preciso que o empreendedor nunca deixe de se atualizar e ficar por dentro das tendências do mercado de trabalho, bem como do comportamento do consumidor.

E para quem está com planos de empreender  no Brasil ou de inovar em seu negócio, listamos, a seguir, algumas dessas tendências e perspectivas que já são realidade em parte das empresas.

Fintechs e a simplificação da vida dos consumidores

O termo vem da união das palavras finanças e tecnologia, e com o tempo, passou a designar o segmento das startups que criam inovações na área de serviços financeiros com processos baseados na tecnologia.

O Nubank é um ótimo exemplo de fintech, pois possibilita o acesso a um cartão de crédito que pode ser totalmente gerenciado via internet, sem necessidade de agência física.

Não é à toa que as fintechs vêm revolucionando o mercado mundial, inclusive o brasileiro, pois o consumidor está cansado de enfrentar tanta burocracia e obstáculos para ver seus direitos respeitados e resolver certas pendências. Assim como as startups, as fintechs chegaram ao mercado propondo um novo modelo de negócio de algo que já existia, mas de modo automatizado, simples e confortável para seu público.

Esse sucesso das fintechs nos faz ter uma ideia da perspectiva do mercado como um todo.

As empresas, cada vez mais, estão se voltando para modelos de negócios mais simplificados e, ainda, levando em consideração um fator antes ignorado por muitas organizações: proporcionar uma boa experiência para o público.

Isso se traduz tanto em facilidade de acesso quanto de custo final dos produtos e serviços, pois como o modelo de startup nasce no meio digital, é grande a economia que as empresas têm e que resulta em boas ofertas para seu público.

Em um mundo cada vez mais tecnológico e engajado, curtidas, comentários positivos e compartilhamentos são a receita de sucesso de marcas que prezam por essas características em seus negócios, sendo eles tecnológicos ou não.

Conheça a inovação disruptiva.

O2O: o futuro do comércio varejista

Outra grande tendência em curso no mundo do empreendedorismo e que promete revolucionar o modo como fazemos compras é a modalidade O2O.

Ela é a interligação entre negócios online e offline, principalmente no setor varejista, e se traduz em e-commerces abrindo lojas físicas e também varejistas tradicionais combinando websites aos seus pontos de vendas físicos.

Este verdadeiro fenômeno é uma tendência global e gera inúmeras oportunidades de negócios para varejistas e shopping centers.

Um grande exemplo é a gigante do varejo eletrônico Amazon, que pretende abrir centenas de pequenos supermercados físicos, sendo que a primeira unidade será inaugurada em Seattle, nos Estados Unidos.

Nesse modelo de negócio da organização, os consumidores farão os pedidos dos itens de supermercado (como leite, ovos, carne, cereais, etc.) a partir de um aplicativo e vão retirar suas encomendas pelo drive thru.

Também haverá a opção de fazer as compras por meio de telas digitais espalhadas pelo local, atraindo aqueles que, ao invés de fazer compras pelo site, preferem escolher pessoalmente os itens.

A modalidade O2O para o varejo também pode ser traduzida em outros recursos:

· Click & Collect (Clique e Leve): esse serviço já está popularizado em lojas como a Fnac e a Decathlon. Na prática, o consumidor faz um pedido no site de e-commerce da loja e coleta o produto no ponto de venda escolhido por ele. A vantagem é que ele pode aproveitar com maior rapidez promoções e ofertas relâmpago e evitar dificuldades na entrega do produto (como o horário inconveniente de entrega de algumas transportadoras, por exemplo) e os altos custos de frete. O varejista também sai ganhando no sentido de ter o consumidor de volta em sua loja física, aumentando a possibilidade de ele adquirir mais itens que complementam a compra inicial.

· Terminais de compras e tablets nas lojas: envolve a digitalização dos pontos de venda, gerando soluções de e-commerce dentro da loja física. Na prática, o varejista pode oferecer produtos que não estão na loja, mas no estoque centralizado. Essa prática já vem sendo utilizada por muitas lojas que possuem pouco espaço físico, mas passam a oferecer uma variedade maior de produtos, tornando-se mais competitiva no mercado. Esses tipos de interação podem vir nos formatos de terminais digitais de vendas ou vendedores devidamente equipados com tablets (que podem, inclusive, gerenciar as vendas online e também ter informações adicionais sobre os produtos de forma rápida).

Trabalho remoto: maior produtividade (e também tempo livre)

Certamente, você já ouviu falar no termo trabalho remoto ou aderiu a ele. A tecnologia fez com que novas culturas de trabalho fossem inseridas dentro das empresas, levando-as a explorar maneiras de trabalhar em um ritmo mais rápido e produtivo.

Afinal, muitos trabalhadores, principalmente nos grandes centros urbanos, sofrem com grandes deslocamentos, falta de acesso a um transporte coletivo adequado e outros fatores que geram a baixa produtividade e, consequentemente, afeta os resultados da empresa.

Tanto a produtividade quanto o esforço em equipe são aprimorados quando os colaboradores podem escolher onde trabalhar.

É o que diz uma pesquisa global sobre tendências de trabalho, realizada pela Polycom, Inc: quase a totalidade dos entrevistados de vários países (98%) concorda que o trabalho remoto aumenta a produtividade.

Isso se traduz em um novo (não tão novo assim) conceito, principalmente por conta da geração dos Millennials: a avaliação de desempenho deve estar baseada na entrega de resultados, e não mais em horas trabalhadas.

Nesse sentido, as empresas acabam adotando uma tecnologia apropriada de colaboração, para que as equipes estejam capacitadas e com o mesmo acesso aos recursos, como se estivessem no escritório.

Um desafio apontado pelos entrevistados (66% dos Millenials e 62% dos entrevistados em geral) indicou a preocupação em não serem notados como trabalhadores quando não estão no escritório.

Diante disso, é preciso que haja uma mudança de atitude e uma nova abordagem para o modo como as pessoas colaboram e trabalham.

E quanto ao Brasil? Surpreendentemente, ele está acima da curva. De acordo com a mesma pesquisa, 80% dos entrevistados têm a oportunidade de trabalhar em qualquer lugar.

Isso pode ser traduzido em nossa própria cultura: mesmo trabalhando muito e com afinco, não deixamos de lado o lazer e a busca pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Por isso, o benefício do trabalho remoto é o aumento da produtividade, a entrega de um trabalho com resultado em um menor tempo para que o restante das horas seja aproveitado de outras maneiras.

Além desses, existem outros benefícios do trabalho remoto, como:

· Economia de dinheiro: se os colaboradores economizam com transporte e roupas, por exemplo, as empresas cortam custos com equipamentos, energia elétrica, lanches, água e internet. Mesmo que os funcionários remotos tenham algumas dessas despesas reembolsadas, ainda assim existe economia, incluindo, também, a dinamização do escritório, que pode até se mudar para um local menor e mais barato.

· Reuniões mais eficazes: uma chamada de vídeo de 15 minutos torna-se muito mais proveitosa do que uma reunião de 1 hora e meia após o expediente.

· Possibilidade maior de networking: trabalhar remotamente de alguns lugares, como cafés, coworkings e até mesmo em viagens a negócio pode proporcionar a criação de novas oportunidades e parcerias para o crescimento da empresa.

Apesar de tantos benefícios, 60% dos entrevistados da pesquisa da Polycom afirmaram que sentem uma necessidade maior de orientação sobre a política de trabalho remoto da empresa.

Está aí outro grande nicho de mercado para quem quer empreender no Brasil: o de treinamento e consultoria para trabalhadores remotos em empresas de variados portes e segmentos.

A sustentabilidade e o crescimento do chamado consumidor consciente

Felizmente, a consciência ambiental tem ganhado força nos últimos anos, e isso também se reflete na atividade de empreender no Brasil.

O consumidor está se educando e se tornando mais responsável e exigente, o que influencia na decisão de compra de produtos e serviços.

O cliente moderno está deixando de ser influenciado para se tornar influenciador, e essa, definitivamente, é uma tendência que veio para ficar.

Uma pesquisa divulgada em julho de 2016, pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), apontou o chamado Indicador de Consumo Consciente (ICC), cujo objetivo era mostrar as tendências de conscientização dos consumidores nas áreas social, financeira e ambiental.

Dos 600 consumidores entrevistados em todas as capitais brasileiras (e no Distrito Federal) e de todas as classes sociais, o ICC subiu de 69,3% em 2015 para 72,7% em 2016.

Isso se traduz na adoção de melhores hábitos por parte dos consumidores brasileiros, como podemos ver na imagem abaixo:

(Fonte: ICC 2016).

Ainda de acordo com a pesquisa, somos considerados consumidores conscientes em transição, pois, para alcançarmos tal patamar, precisávamos ter um ICC acima de 80%. Mas isso quer dizer que estamos no caminho, o que tende a mudar as formas de se empreender no Brasil.

Como estratégia para alcançar esse consumidor engajado e consciente, as empresas precisam adotar medidas sustentáveis, tanto em sua forma de produção quanto de comercialização dos produtos e serviços.

Medidas como a economia de gastos para conter desperdícios, ações ambientais dentro e fora da empresa (envolvendo a participação da comunidade), criação de uma cultura de valorização dos colaboradores e inovação na hora de promover os produtos de forma sustentável são grandes gatilhos para despertar o engajamento e a melhora da experiência do consumidor, tornando as marcas respeitadas e valorizadas.

Diante de todas essas informações, podemos afirmar que empreender no Brasil continua sendo desafiador, mas se olharmos para o presente como um impulso para um futuro de crescimento e desenvolvimento, o caminho a ser percorrido se torna menos conflituoso.

Por isso, é muito importante não deixar de se atualizar sobre tendências e perspectivas para que os negócios sejam cada vez mais atraentes e com um verdadeiro propósito para o público.

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